2023: que perspetivas no ecossistema segurador

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2023: que perspetivas no ecossistema segurador

A previsão das tendências que emergem para dada indústria, suporta o enquadramento de cenários capazes de adaptar a estratégia de cada player que atua no ecossistema de um dado mercado. Perspetivar tendências, não é um exercício de adivinhação.

Outrossim, emerge da validação da realidade passada com novas perspetivas, sejam elas tecnológicas, de necessidades dos consumidores, da capacidade de inovar e encontrar soluções. As áreas de research e de planeamento das empresas, cada vez mais incorporam a metodologia dos cenários no redesenho do processo de ajustamento dinâmico da estratégia. A indústria seguradora terá como pilares de ação para 2023: as limitações macroeconómicas, os reflexos da guerra na Ucrânia na recusa de subscrição de riscos como transporte marítimo, as inovações tecnológicas a incorporar nos modelos de negócio, as alterações do comportamento do consumidor e o redimensionamento dos diversos players (consolidação).

Assinalamos as tendências que perspetivamos como mais relevantes para o ecossistema segurador em Portugal:

1. As alterações do comportamento do consumidor e os cyber riscos

Os tomadores de seguros, evidenciam necessidade crescente de proteção a nível dos riscos cibernéticos, face ao aumento da fraude informática e aos ataques de ransomware. O número de dispositivos inteligentes tem crescido exponencialmente, consequência da evolução das comunicações assentes na internet, e da digitalização da economia. Estimam-se que a necessidade de proteção, através de cyber seguros abranja apenas cerca de 10% dos tomadores de seguros nos EUA e um pouco menos na Europa. O crescimento deste ramo de negócio até 2029 está estimado em cerca de 25,7% segundo o site da American Agents Alliance (2022).
Em Portugal as soluções ainda não são transversais, isto é, não fazem parte do portfólio da maioria das seguradoras de “property and casualty”, apesar das existirem boas soluções e capacidade dos resseguradores. Esta limitação, bem como a insuficiente formação neste domínio das redes de distribuição, limitam o crescimento do mercado e a abrangência das apólices ao não associarem a “interrupção de negócio” e por vezes as multas dos impactos em terceiros. As soluções de auditoria prévia, no âmbito da análise de risco à componente da cyber segurança relevam um mercado estreito, a necessitar de alargamento e forte consciencialização.

2. As novas formas de trabalhar e a inovação

O efeito da Covid-19 sobre o mercado de trabalho, fez aumentar o teletrabalho e a emergência de novos empregos baseado no digital spill over effect, reduzindo o trabalho tradicional e os seus reflexos nas apólices de acidentes de trabalho, e gerando nova realidade de micro trabalho e self employment. A virtualização da força de trabalho, acelerada pela pandemia, fez crescer uma nova área de teletrabalho baseado na experiência e senioridade e disponibilização de novas formas de talento no mercado. A sua proteção é um desafio para o redesenho e adaptação dos seguros de acidentes de trabalho, como evidencia a consultora Deloite (2022) no quadro a seguir reproduzido:

3. O aumento da telemática e a alteração dos modelos de segurabilidade

As seguradoras encaram a telemática, associada às comunicações em modo wireless, como a alavanca para os seguros automóvel. A alteração do perfil de tarifação a partir dos comportamentos dos consumidores e dos quilómetros percorridos diferenciará a escolha dos tomadores de seguros, seja através de descontos pela utilização da telemática, seja pelos comportamentos menos arriscados.

A instalação de apps conectadas aos veículos, será cada vez mais incorporada pelos fabricantes, e em muitos casos por inércia dos seguradores tradicionais passará para empresas ao pack de serviços pós-venda no âmbito dos seguros, como o caso da Tesla testemunha. Investir na modernização e transformação tecnológica passará por apps, por funções e por infraestruturas de comunicação com os distribuidores de modo a garantir e/ou ganhar quota de mercado na área automóvel das seguradoras, podendo passar por incorporar insurtech da área. A evolução evidenciada no relatório da Deloite (2022) apresenta a evolução expressa de abaixo de 2017 a 2022.

A integração de start ups inovadoras na componente de transformação tecnológica das seguradoras e/ou resseguradores é uma tendência incorporada nos orçamentos das companhias que querem estar à frente na curva, e um estímulo para distribuidores como os corretores de maior dimensão, que perspetivam o crescimento e a inovação como aliados.

4. Os seguros “embebidos” tenderão a crescer

A tendência que foi observada com o comportamento do consumidor digital, como reflexibilidade da compra “despactotizada” da indústria musical e de stremeaning, decompondo ao máximo as diversas coberturas de risco das apólices de seguros, numa lógica “friendly-use-per pay” adaptável a riscos de massa como o automóvel ou o multirriscos, tende a ser alterada numa lógica de criação de mercado, através de um processo tradicional de agregação de solução para riscos cibernéticos e/ou climatéricos entre outros.

A venda de soluções para riscos desta natureza, segue uma componente de plataforma tecnológica, onde os distribuidores de maior dimensão, como os corretores, devem adotar em articulação com as seguradoras, sejam estes seguros de transporte de mercadorias, seguros de saúde ou de diversas tipologias de responsabilidade civil.

Conclusão:

A conjugação destas tendências em mercados de menor dimensão como Portugal, no atual contexto económico de subida de taxas de juro, com inflação no seu maior pico dos últimos trinta anos, embora com o mercado de trabalho controlado, apesar das incertezas causadas pela guerra na Ucrânia, traduzir-se-á no crescimento das carteiras não vida, muito mais pelo lado do repricing, do que do crescimento económico (uma conjuntura cada vez mais próxima da estagflação). O desafio da dinamização das soluções para os novos riscos, o alargamento do investimento de suporte à venda em plataformas tecnológicas, favorecerão a tendência para a consolidação dos distribuidores em torno do pilar da dimensão, e para agilidade dos distribuidores especializados de menor dimensão com suporte direto das suas seguradoras.

Referências bibliográficas:

Deloite Insights (2022).2023 insurance Outlook.
KPMG (2022). Top 10 trend predictions for insurers in 2023.
Mackinsey (2022). Global Insurance Report 2023: Reimagining life insurance.
Swiss Re (2022). Insurance industry to return to growth in 2023-24: Swiss Re.
Woodruff Sawyer (2022). Looking ahead/guide to property & casualty risk management and insurance in 2023.

Autor : Fernandes da Silva

Autor : Fernandes da Silva

General Manager: A. Fernandes da Silva Consulting Lda

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