O risco da seleção adversa nos prémios de seguros e a utilização dos
distribuidores dos contratos para a sua mitigação

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O risco da seleção adversa nos prémios de seguros e a utlização dos distribuidores dos contratos para a sua mitigação Intelligence

A questão da assimetria da informação assume uma importância crescente na indústria seguradora e nas relações das diversas componentes dos modelos de negócio na indústria seguradora, seja a nível dos submodelos de pricing, de distribuição e de gestão de sinistros. Os contratos de seguro (apólices) procuram mitigar a questão da informação assimétrica emergente quer do risco moral (moral hazard), quer da seleção adversa (adverse selection). Para esta última formulamos as seguintes questões:

1 – Estarão os contratos de seguros, desenhados em termos económicos de modo a acomodar o efeito do risco da seleção adversa sem destruir valor para os seguradores?

2- Os modelos de distribuição (tradicional, bancassurance, digital ou híbridos) conseguem desempenhar um papel relevante na mitigação desse risco?

Chiappori & Salanié (2013) consideram que o design dos contratos de seguros, num contexto competitivo, estão profundamente influenciados pela assimetria de informação existente entre seguradores e tomadores de seguros/segurados e a assunção do modelo da captura de valor entre as partes considera a sua auto-seleção. Spindler et al. (2014) ao analisarem o maior mercado de seguros automóveis da Europa – a Alemanha, constataram que os níveis de cobertura, geradores de seleção adversa, dependem dos diversos riscos em presença.

Nos riscos de saúde e vida por exemplo, onde a prestação voluntária de informação acerca dos dados de saúde das pessoas seguras, depende muito da informação fornecida por estas, em contexto de interpelação no âmbito dos diversos questionários de risco, a existência de incentivos à formulação do prémio justo, está presente nos standards da proposição e aceitação do risco, através do apoio privilegiado de técnicas de entrevistas diferidas (tele-entrevistas) e técnicas AI (artificial intelligence) para integrar informação externa e interna conducentes ao ajustamento do perfil de risco. Aliás, neste pressuposto o domínio por parte dos seguradores de informação sobre o risco de vida ou saúde, dificulta ou inviabiliza a contratação de seguros a partir dos 65 anos face ao aumento do espectro clínico não conhecido do modo de vida antecedente dos segurados. Finkelstein & McGarry (2006) demonstram que existe uma forte correlação positiva na redução do risco associado à seleção adversa, nos clientes que detém uma maior taxa de equipamento numa seguradora ou nos que são clientes de mais longevidade nas carteiras, evidenciando propensão para a partilha de informação mais transparente.

A seleção adversa (adverse selection) no entendimento dos autores acima referenciados, “aumenta quando uma parte possui melhor informação do que as outras partes acerca dos parâmetros que são mais relevantes para a relação (contratual)”. Na seleção adversa as pessoas são caracterizadas por diferentes níveis de risco (ex-ante e ex-post), os quais funcionam de modo inverso ao risco moral. Partindo dos pressupostos da teoria da informação, as seguradoras detentoras de bases históricas de contratos similares, possuem tanto melhor informação sobre as probabilidades de risco associadas à ocorrência de determinado sinistro, quanto mais standardizado é o tipo de apólice (por exemplo auto, casa, saúde, vida, entre outros onde a pacotização dos riscos segue o modelo atuarial de dispersão dos mesmos em torno dos valores médios linearizáveis).

ÃOs distribuidores, procurando conhecer o comportamento dos seus clientes pelo efeito proximidade, podem ampliar ou reduzir os riscos associados às coberturas a contratar no contexto da seleção adversa. Como referido no estudo de Finkelstein & McGarry (2006) a capacidade de os distribuidores maximizarem a taxa de equipamento dos clientes preferencialmente na mesma seguradora, não só consolida a tradicional ideia de marketing de redução da churn rate, como incorpora a propensão de redução do risco associado à seleção adversa, melhorando a margem e aumentando a lucratividade das seguradoras. A correlação entre as escolhas induzidas aos tomadores de seguros e a informação não expressa nos contratos, maximizam ou reduzem a lucratividade das seguradoras, patente no seu custo core: a taxa de sinistralidade, com clara diferenciação entre property and casualty e vida ou saúde. A premiação do comportamento ético associado é repartida pelos seguradores entre o valor do prémio a pagar pelos tomadores de seguros (seja através dos bónus-malus, dos descontos associados ao estilo de vida, à instalação de sistemas de segurança complementares ou à integração de wearables (IoT) nos objetos de risco) ou ainda à atribuição de um incentivo de performance sobre a taxa de sinistralidade observada num dado período. Contudo, esta última se não for desenvolvida dentro de um modelo de equilíbrio das carteiras individualizadas de cada distribuidor, através de um processo de homogeneização que conjugue a idade das mesmas, a sua dimensão, a taxa de equipamento média dos clientes e a parcelização dos diversos riscos integrantes da mesma, torna-se um processo pífio, desencorajante de atitudes e ações de valores comuns para as partes do mesmo ecossistema. A opção dos seguradores quando formulam as diversas componentes do preço, aditivas ao prémio puro, (sejam as despesas de gestão ou os custos de aquisição) devem pré calcular a sua própria aversão ao risco (sendo operadores risk taker) e o seu “custo de dissuasão”, através do peso dos canais de distribuição utilizados e o “custo de atrito de relacionamento”, que potencie a competitividade sustentada tão cara à trajetória de crescimento de médio prazo.

No comportamento comercial dos canais de distribuição tradicional (agentes e corretores) ou bancassurance (bancos, distribuidores postais ou outros distribuidores financeiros especializados) a publicitação sistemática nos processos de comunicação aos clientes (tomadores de seguro/segurados) seja na contratação do risco (envio das apólices, na informação associada ao risco transferido (como sugestão de boas práticas de segurança e proteção por exemplo), à cobrança dos prémios acerca do “ranking ético” das redes. Mas as homogeneizações do equilíbrio preliminar da sinistralidade das carteiras ponderada pelos efeitos anteriores referidos são indutoras de um justo equilíbrio valorativo crítico.

CONCLUSÃO

A incorporação correta nos modelos atuariais de cálculo dos diversos riscos, das componentes dominantes da melhor informação como a mitigação de gaps tarifários indiciadores de desconfiança pela amplitude subjacente entre os prémios praticados e os tarifados, pode gerar equilíbrio no produto comercializado, reduzindo a propensão para a assimetria de informação entre as partes, potenciadora da seleção adversa. A partilha transparente de processos agregadores dos valores comuns entre seguradores, clientes e distribuidores, por um lado reduz a propensão para ampliação da seleção adversa e por outro incorpora a sustentabilidade dos modelos de crescimento baseados nos criadores de mercado, que são os seus distribuidores. Sem distribuidores alinhados, motivados e sincronizados os ganhos de quota funcionam em ziguezague temporal e anulam as dinâmicas das trajetórias de crescimento. Os modelos de distribuição digitais que funcionam em closed loop (circuito fechado) enfrentam o risco de credibilidade com a volatilidade dos consumidores de seguros face a uma premiação comportamental onde a transparência do nível de seleção adversa esbarra com as regras do RGPD.

Referências bibliográficas:

Chiappori, P. A., & Salanié, B. (2013). Asymmetric information in insurance markets: Predictions and tests. Handbook of insurance, 397-422.

Finkelstein, A., & McGarry, K. (2006). Multiple dimensions of private information: evidence from the long-term care insurance market. American Economic Review, 96(4), 938-958.

Spindler, M., Winter, J., & Hagmayer, S. (2014). Asymmetric information in the market for automobile insurance: Evidence from Germany. Journal of Risk and Insurance, 81(4), 781-801.

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Autor : Fernandes da Silva

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General Manager: A. Fernandes da Silva Consulting Lda

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