Tendências para 2025 no setor segurador não vida ou sinais de mudança no respetivo ecossistema?
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Tendências para 2025 no setor segurador não vida ou sinais de mudança no respetivo ecossistema?
Resumo
As perspetivas da indústria seguradora não vida decorrem da aceleração e consolidação dos riscos que se refletiram nos mercados nos últimos 2/3 anos, sinalizando o seu reflexo na receita, que impactarão de forma diferenciada as várias componentes do ecossistema segurador. Focamos o blogpost abaixo a área dos riscos e da tecnologia.
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Introdução
O hábito de balancear e perspetivar as tendências económicas, sociais, politicas, empresariais e pessoais entre outras no início de cada ano faz parte da rotina do fecho de dezembro e primórdios de janeiro. A abordagem do tema no setor segurador inclui uma visão sistémica na perspetiva do respetivo ecossistema e dos reflexos na sua cadeia de valor partindo dos tomadores de seguros/segurados, passando pelos distribuidores, seguradores, prestadores de serviços e resseguradores.
O que deve cada uma das partes do ecossistema esperar relativamente a 2025? Será que o consumidor de seguros aumentará a sua centricidade face à emergência de novos riscos? A tecnologia que tem vindo a transformar o modus operandi dos players chave e os hábitos dos consumidores moldará de forma transversal a indústria?
O contexto
Os desafios da indústria seguradora e da sua cadeia de valor, parte da realidade base dos próprios seguros, proteger financeiramente as pessoas e as empresas dos seus riscos pessoais e corporativos, fornecendo segurança nas vidas e decisões empresariais, na abordagem clássica da tranquilidade necessária (peace of mind) de mitigação dos riscos, através da transferência contratual (apólices) perante a ocorrência de certos eventos futuros (sinistros).
A capacidade de competir das seguradoras é fundamental para garantir que a proteção dos segurados se faz ao melhor preço pago pelos tomadores de seguros, num contexto de consolidação crescente dos mercados como o português. A competição é fortemente impulsionada pelos modelos tecnológicos adotados e pela capacitação dos recursos humanos que “conectam” os consumidores de seguros.
Nos últimos 10 anos a tónica da tecnologia baseou-se essencialmente na transformação digital de processos, de gestão de sinistros e ativos intrínsecos à atividade (provisões técnicas e reservas matemáticas), nas vendas, na adoção de ferramentas que alavancassem os dados gerados (big data) e permitissem melhorar o cálculo atuarial dos prémios adequando-o ao novo perfil de risco ajustado ao consumidor de seguros (prémios on-off, por utilização, por perfil comportamental, paramétricos, etc.). O impulso tecnológico potenciado pela digitalização da atividade económica, novos wearables, IoT, ou blockchain desafiaram a indústria tradicional e a inovação, a partir das insurtechs onde o pivot da big data marca as tendências do futuro próximo assentes na inteligência artificial nos seus diferentes formatos de machine learning, deep learning como ferramenta de tratamento do risco, sem descurar a visão de ela própria ser alvo de tratamento de risco como mencionamos na recensão bibliográfica efetuada sobre o livro de Vicente, G., M. (2024)
Para a identificação das principais tendências na indústria seguradora não vida para 2025 analisamos o relatório da consultora Deloite “Perspetivas” (2024)
Consultoras e tendências
A consultora Deloitte na sua visão para 2025 destaca a consolidação dos riscos climáticos e geopolíticos com reflexos nos comportamentos dos consumidores e enfoca o tratamento dos mesmos através de processos onde o agile releva com recurso a ferramentas de inteligência artificial fortemente divulgadas a partir dos modelos de linguagem generalizada (LLM) como as do ChatGPT que Mollick, E. (2024) destaca como co inteligência necessária para pessoas e organizações.
Quadro-síntese das perspetivas fornecidas pela Deloite
Fonte: Deloitte (2024). Elaboração do autor
Por sua vez a consultora KPMG foca o futuro dos seguros na necessidade de estes de adaptarem à vida das pessoas e no papel de interação que a mediação terá potenciada por insurtechs, num contexto de incerteza económica ampliada pelos conflitos e guerras em curso. A fragmentação das cadeias de valor ampliada pelas tensões geopolíticas ameaçam a estabilização do ordenamento regulatório do setor segurador. A inovação tecnológica sendo um desafio para o tratamento de certos riscos como os da cybersegurança, está a transformar-se com a automação, robotização e a IA numa oportunidade de simplificação dos processos e de aumento da capacitação no tratamento dos dados. A awareness da ESG (Environmental, Social and Governance) está a influenciar o escrutínio da atividade pelos diversos stakeholders.
A consultora prevê que os modelos de seguros no futuro assentarão assim numa atividade mais global e ágil (agile global player) onde a especialização se aprofundará na estratégia de negócio de cada operador (innovative specialist) onde se potenciará o risco em open-source.
Quadro-síntese das perspetivas do futuro dos seguros: KPMG
Fonte: KPMG (2023). Elaboração do autor
Os traços comuns da aceleração digital para 2025 estão impactadas na perspetiva das consultoras pela adoção de soluções de AI generativas para todo o ecossistema segurador e pela expansão das IoT para casas, carros, pessoas.
A perspetivas do risco dos resseguradores
As principais tendências a nível de riscos globais, na perspetiva da Swiss Re (2025) passam pela instabilidade geopolítica, aumento das catástrofes naturais, (nos últimos 5 anos ultrapassaram 100$ biliões/ano) e aumento da litigância na área da responsabilidade civil. A nível de investimentos o foco está no aumento do portfólio de ativos que cumpram as regras da descarbonização e da diminuição da dependência da energia fóssil, em convergência com as metas ESG da emissões zero até 2030.
A quebra no crescimento dos prémios não vida face a 2024, continua a perspetivar um crescimento global de cerca de 2,6%, enquanto para vida se prevê um crescimento global de 2,7% com forte contributo da China e Índia.
Os rácios combinados estimam-se em torno de 98,5% como em 2024.
A visão customer-centric acentuar-se-á através de apólices embebidas com riscos agrupados e plataformas integradas com serviços de parcerias.
Estes são desafios para os distribuidores tradicionais (agentes e corretores) a nível de capacitação da sua força de vendas que exigirá mais formação integrada de diferentes riscos, mas simultaneamente uma ameaça de diminuição da sua interação com os tomadores de seguros/segurados pela capacidade de outros players se associarem à distribuição com a incorporação da venda de seguros nas suas plataformas de negócio (tendência existente na Amazon, Tesla, etc.). Em contraponto seguradoras como a Ping An incorporaram nas suas plataformas de venda de seguros, outros serviços (financeiros, de assistência automóvel de assistência de saúde, etc.) numa lógica “one-stop-shopping”.
Conclusão
Os consumidores de seguros estão a ser gradualmente mais exigentes e informados sobre os produtos de seguros o que obriga as seguradoras a aprofundar as tendências da personalização, adaptando as necessidades específicas do risco das condições particulares das apólices, expressas numa linguagem mais transparente e simples para a objetivação da informação no DIP (documento de informação do produto) clarificar, o âmbito do risco, e disponibilizadas de forma permanente em formato digital. Encontramos ainda seguradoras em Portugal onde as condições gerais e especiais dos produtos e os conteúdos das respetivas apólices não estão disponíveis na informação obrigatória ao mercado. Espera-se um aumento da supervisão neste âmbito para corrigir a não transparência verificada.
Os distribuidores com destaque para os agentes e corretores terão um papel crucial onde se exigirá mais conhecimento, mais integração digital, capacidade para entender as regras ESG para explicar aos segurados os perfis dos seus portfolios de investimento, e a complexidade dos produtos em distribuição, categorizando o apoio nas escolhas e recomendações a efetuar.
As seguradoras tenderão em articulação com os resseguradores a introduzir inovações nos produtos, acomodando a sustentabilidade e maximizando a experiência com o cliente orientando as suas redes de distribuição na formação da interação digital com os tomadores de seguros e segurados.
Os prestadores de serviços na área dos sinistros, sejam estes na área da saúde, das peritagens ou oficinas tenderão a incorporar mais tecnologia e automação no serviço final aos segurados e beneficiários onde a tele saúde se destacará.
O ecossistema segurador está em transformação, com um papel crescente da tecnologia, foco nas necessidades do consumidor de seguros e na adaptação às mudanças globais. A colaboração entre todas as partes do ecossistema e a responsabilidade dos investidores em relação às mudanças emergentes serão cruciais para o futuro deste sector em 2025.
Referências bibliográficas
Deloitte (2024). Paraskevopoulos, A. Perspetivas para o setor de seguros 2025. https://www.deloitte.com/br/pt/Industries/insurance/perspectives/perspectivas-setor-seguros.html#
KPMG (2024). O futuro dos seguros: impulsionar o futuro da transformação no setor dos seguros. https://kpmg.com/pt/pt/home/insights/2023/08/o-futuro-dos-seguros.html
Mollick, E. (2024).Co-inteligência. Viver e trabalhar com IA. Ideias de Ler.
Swiss Re (2025). Swiss Re leaders predict key reinsurance trends for 2025. https://www.insurancebusinessmag.com/uk/news/reinsurance/swiss-re-leaders-predict-key-reinsurance-trends-for-2025-518844.aspx
Vicente, G., M. (2024). Los riesgos generados por la inteligência artificial y los possibles mecanismos para su mutualización. Cadernos de la Cátedra. Fundação INADE/UDC
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Autor : Fernandes da Silva
General Manager: A. Fernandes da Silva Consulting Lda