Tendências para 2025 nos seguros de vida: continuidade ou alteração?

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Tendências para 2025 nos seguros de vida: continuidade ou alteração?

Resumo

A indústria seguradora vida enfrenta desafios muito distintos dos seguros não vida na medida em que a globalização dos riscos reflete de forma diferenciada aspetos demográficos, culturais e institucionais nas várias regiões do globo desafiando todo o ecossistema para soluções mais personalizadas, low cost, integradas, híbridas e onde o cliente alcance uma visão de transferência de risco e investimento compensatório face ao critério indemnizatório de não vida.

Introdução

Ao iniciar 2025 devemos avaliar as perspetivas das tendências que se apresentam para o ramo vida (como fizemos para não vida) do ecossistema segurador, com um olhar diferenciado para as partes integrantes do mesmo e na perspetiva geográfica. A antecipação de tendências nos negócios ajudam ao desenho das estratégias a seguir, num contexto de aprofundamento do mercado único de seguros na União Europeia, melhorando a capacidade competitiva em contexto de inflação, acima do objetivo de 2% do BCE, com cenários de incerteza decorrentes de riscos geopolíticos, tecnológicos e aumento dos riscos de falta de liquidez associados ao aumento de ativos com estruturas complexas.

A procura por ativos com rentabilidades atraentes para as seguradoras vida, para compensar as perdas das suas carteiras de investimento durante o longo período de taxas de juro baixas ou negativas, exige monitorização dos supervisores na dupla necessidade de estabilidade e acomodação de carteiras de investimentos “verdes”. A área dos fundos de pensões, necessita de ser encarada como um desafio nas estratégias de investimento por parte das seguradoras vida e sociedades gestoras de fundos de pensões.

O contexto 

Ambientes macroeconómicos estabilizados, mas não negativos em termos de taxas de juro, favorecem o desenvolvimento e a atratividade da atividade seguradora vida, numa perspetiva dos mercados globais. Apresentando taxas de crescimento interessantes nos seguros de renda, como referem  a McKinsey (2024) relativamente aos USA, com valores em torno de 19% em 2024 ou de 50% no Reino Unido, apesar da estagnação das carteiras em França, Alemanha e Itália.

A visão integrada dos seguros de saúde e de vida do ponto de vista da oferta, ultrapassando a tradicional divisão entre vida e não vida, conduzirá a uma reconfiguração da oferta onde próprios reguladores, como a EIOPA, devem rever a solução existente da terceira geração das diretivas de seguros, que conduziram ao mercado único de seguros em 1994, favorecendo uma licença de vida e saúde  unificada por oposição à restante área não vida.

O fato de existirem uma oportunidade com a reconfiguração da pirâmide etária,  favorece a segmentação dos pontos fortes da oferta, alocando uma abordagem predominante de saúde e vida risco com destaque para as componente das coberturas complentares para a geração Z, em detrimento da poupança reforma para geração X e millenials. Famílias mono parentais ou tendencialmente de filho único, fazem diminuir a procura da proteção de vida risco tradicional, pelo que as apólices mistas de risco e financeiras serão a solução mais aceitável, para os consumidores de seguros de vida na área risco-poupança. Segundo o Relatório da EIOPA (2024) “EIOPA Staff Paper on the future Pan-European Pension Product (PEPP)” nos estados-membros da União continua a aumentar o envelhecimento populacional e consequentemente a tensão financeira sobre os sistemas de pensões. A poupança dos cidadãos europeus atingiu €34 triliões de euros em 2023, onde os depósitos bancários representaram cerca de um terço.

O lançamento dos PEPP em março de 2022, que visava oferecer uma ferramenta consistente, transparente, de baixo custo-eficiência e capaz de incentivar a mobilidade das poupanças para a reforma dos europeus, eliminando as barreiras nacionais, está a relevar-se um fracasso face às expectativas iniciais. Entre as principais causas destacam-se a desarticulação funcional e legislativa dos Estados-Membros, com atrasos significativos na transposição da diretiva para as respetivas legislações internas, defraudando o “acquis communautaire”, a existência de regimes fiscais heterogéneos na União limitando, colocando em causa a equidade fiscal dos aforradores, entre os diversos produtos conducentes ao 3º pilar da segurança social comunitária.

Tendências em Vida Risco

A integração da experiência digital nos seguros de vida tem crescido de forma significativa na Ásia, assim como a distribuição pelos canais de bancassurance, embora o efeito personalização associado a este tipo de seguros, sugira a manutenção da abordagem tradicional da mediação, numa perspetiva de consultoria ao segurado. O reflexo da abordagem impacta fortemente na margem técnica apresentada habitualmente pelos seguros de vida de puro risco, num ciclo que minimiza o spill over market, retratado no report da McKinsey (2024) abaixo sobre os retornos proporcionados das diversas áreas de investimento:

Fonte: Retirado de McKinsey (2024): Global insurance report 2025:the pursuit of growth

Na área do puro risco a oferta para a geração Z e a geração X tenderá para:

  • Produtos de risco baseados na complementaridade com a segurança social, protegendo os riscos associados às incapacidades;
  • Produtos integrados de risco puro e doenças graves;
  • Produtos de risco puro e bem-estar (wellness);
  • Personalização digital de apólices de risco puro com perfil low cost.

Tendências para Vida Poupança

Os mercados para 2025 tendem a estabilizar o ritmo de crescimento do PIB, a inflação a situar-se em patamares de controlo. Os mercados de capitais mantem yields positivas (ver fig. abaixo), prediz o relatório da McKinsey (2024), o que desafia as seguradoras de vida, e em especial as mistas (que exploram vida e não vida sob a mesma licença), a regressarem aos basics da oferta de soluções de poupança e de reforma, a partir de multi distribuição das suas redes tradicionais (agentes e corretores), apostando em produtos de médio prazo que incorporem investimentos verdes. A recuperação das competências das suas redes tradicionais deve passar por potenciarem os distribuidores com competências instaladas em saúde.

Fonte: Retirado de EIOPA (2024): financial Stability Report

O regresso a apólices mistas de vida e saúde será um passo na oferta alavancadora do rendimento, para o binómio seguradoras-distribuidores, e um incentivo para o ajustamento integrado das necessidades dos consumidores. 

Destacamos as tendências seguintes:

  • Produtos unit-linked em crescimento, numa perspetiva de aforro;
  • Produtos híbridos com garantia total ou parcial de capital durante alguns anos, embebidos de investimentos verdes (ESG);
  • Integração dos seguros de saúde e de vida com componentes financeiras para reduzir o efeito de ajustamento etário futuro dos segurados;
  • Desenvolvimento de oferta digital da poupança, numa perspetiva de longo prazo, integrando os diversos touch points dos seguros não vida.

Resseguros e tendências para vida

A tendência para aumentar a transferência de carteiras de risco das seguradoras vida para os resseguradores envolve um aumento de exposição destes aos riscos de longo prazo, que é ampliado pela procura  de ativos de risco complexo de longo prazo (cat bonds por exemplo) face às responsabilidades assumidas.

Importa destacar que apenas cerca de 6% dos prémios vida cobrados na União Europeia foram cedidos para resseguro. Destacam-se cerca de 1% que foram cedidos a resseguradores fora da EU/EEA com predomínio para o Reino Unido e Bermudas, e focados em ativos de risco agressivos como as cat bonds, menciona o relatório de sustentabilidade financeira de dezembro da EIOPA (2024 b).

Tendências na distribuição 

Numa análise da evolução do peso dos diferentes canais de distribuição de seguros vida em Portugal no período 2008-2022 constamos um peso crescente do canal de bancassurance e uma redução do peso da rede tradicional composta por mediadores de seguros (agentes e corretores) e da venda direta, onde se constatou um trade-off entre venda nos balcões físicos para venda através de canais digitais/telefónicos, como se pode observar no quadro seguinte:

Fonte: elaboração do autor: dados ASF

O racional subjacente ao volume de distribuição de seguros vida assenta nas consequências da liberalização do setor financeiro nos anos 80 do sec. XX com a possibilidade de utilizarem a rede de balcões, para maximizarem rendimento e a conveniência dos clientes (one stop-shopping), potenciando os ganhos associados à securitização dos respetivos balanços. A respetiva rede de vendas incrementou as escalas de produção, com a partilha da base de clientes com as seguradoras, aumentando nestas a eficiência da rentabilidade, apesar da tendência para a subida dos custos de aquisição (incluindo as comissões de angariação, cobrança e outras, além da remuneração contingente) ,como se pode observar no quadro seguinte:

Fonte: elaboração do autor : dados da ASF

A procura pela eficiência da lucratividade, passa por uma redução sistemática dos custos de aquisição e despesas administração correlacionadas (expense ratio), alinhando com as novas tendências dos segurados, a que não é alheia um conjunto de fatores culturais com destaca Rubio-Misas M. (2024) na área da eurozona. Por outro lado, a procura de eficiência das seguradoras, conduzi-las-á à experienciação de meta-tecnologias, que esbarram numa cultura hierarquia de integração.

Os grandes distribuidores

A distinção entre distribuidores tradicionais, bancassurance e venda direta (basicamente em formato digital) tenderá a alterar o seu formato, para reganhar novos públicos, e abandonar o papel de distribuidor passivo integrando novas fontes de negócio.

Os brokers e porventura os grandes agentes multimarca, repensarão o seu papel de distribuidores de seguros vida. Integrarão a área de vida de forma acelerada com a de saúde e outros beneficios, disponibilizando plataformas especificas para os seus clientes.

Expandirão a sua área de produtos embebidos, na perspetiva da conveniência e custo-benefício para os seus clientes, a partir dos portais desenvolvidos para o serviço às grandes empresas, onde integrarão serviços de parceria para o segmento da população sénior, entre outos (wellness, farmácia, etc.).

Na área do risco, o destaque continuará a ser no risco associado ao crédito hipotecário e/ou consumo, desenvolvendo plataformas multi-soluções para prestarem serviços de acesso aberto à sua base de clientes individuais e afinities.

Conclusão

As tendências do setor de seguros de vida para 2025 revelam um crescente foco em produtos de vida risco puro, especialmente em resposta à maior consciência dos consumidores sobre a importância da proteção financeira. A pandemia de COVID-19 acentuou a necessidade da segurança financeira para as famílias, levando a um aumento na procura por apólices de vida risco na área da invalidez. As soluções digitais, com plataformas e processos de subscrição simplificados,  estão a tornar esses produtos mais acessíveis.

No que diz respeito aos seguros de vida financeiros-saúde, observa-se uma tendência crescente em integrar benefícios relacionados com a saúde nos produtos de vida. As seguradoras estão a desenvolver apólices que oferecem descontos a clientes que realizam práticas de bem-estar. À medida que a conscientização sobre questões de saúde mental e física cresce, os seguros que fornecem proteção e apoio em emergências de saúde tornam-se essenciais, alinhando-se com as necessidades contemporâneas dos consumidores e alisando os custos de longo prazo das apólices  de saúde.

Na categoria de vida poupança e pensões está-se a assistir a um renascimento à medida que os consumidores buscam soluções, que combinem proteção de vida com oportunidades de poupança e investimento. Os produtos híbridos estão a ganhar popularidade, respondendo à procura por segurança financeira a longo prazo. A crescente ênfase na sustentabilidade e nas opções de investimento responsável  está a moldar o desenvolvimento destas apólices, refletindo escolhas éticas nos investimentos para os segurados.

 

Referências bibliográficas

EIOPA (2024). A simple and long-term European savings product: the future pan-European pension product.  

https://www.eiopa.europa.eu/document/download/53a75b6e-fc6b-46ce-9818-02badf20f515_en?filename=EIOPA%20Staff%20Paper%20on%20the%20future%20Pan-European%20Pension%20Product.pdf&prefLang=lv

EIOPA (2024b). Financial Stability report. https://www.eiopa.europa.eu/publications/financial-stability-report-december-2024_en?prefLang=lv

Rubio-Misas, M. (2024). Culture and integration of Eurozone life insurance markets. The European Journal of Finance30(6), 597-617.

McKinsey (2024). Global insurance report 2025: the pursuit of growth. https://www.mckinsey.com/~/media/mckinsey/industries/financial%20services/our%20insights/global%20insurance%20report%202025/global-insurance-report-2025-the-pursuit-of-growth.pdf

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Autor : Fernandes da Silva

Autor : Fernandes da Silva

General Manager: A. Fernandes da Silva Consulting Lda

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